sábado, 3 de abril de 2010

Tem mais não

O coco do buriti. Guaraciama, MG. Fotografado em julho de 2009

Guimarães Rosa não escreveu Grandes Sertões apenas com elementos de sua imaginação. O texto é fruto de suas excursões pelos cerrados do norte de Minas, Goiás e Mato Grosso nas décadas de 1940 e 1950. A mais conhecida é a que fez em companhia de Manuelzão, pelos sertões de Mato Grosso. Ele molhou os pés nas Veredas, comeu buriti com farinha e conversou, conversou, conversou.


Hoje, arrisco afirmar que um feito literário como Grande Sertões não é mais possível. O Sertão não existe mais. Minha geração foi a última a conviver com coisas próprias dos lugares específicos do mundo, foi a última a explorar. O que há é a indústria, inclusive esta a que recorro, capaz de levar um resumo de tudo a todos. Não é uma crítica, apesar de ser uma nostalgia. O sertão está do lado de dentro, o infinito pessoal.

E a respeito, a letra de Almir Sater....

Peão

Almir Sater
Composição: Almir Sater e Renato Teixeira

Diga você me conhece
Eu já fui boiadeiro
Conheço essas trilhas
Quilômetro, milhas
Que vem e que vão
Pelo alto sertão
Que agora se chama
Não mais de sertão
Mas de terra vendida
Civilização

Ventos que arrombam janelas
E arrancam porteiras
Espora de prata riscando as fronteiras
Selei meu cavalo
Matula no fardo
Andando ligeiro
Um abraço apertado
E um suspiro dobrado
Não tem mais sertão

Os caminhos mudam com o tempo
Só o tempo muda um coração
Segue seu destino boiadeiro
Que a boiada foi no caminhão

A fogueira, a noite
Redes no galpão
O paiero, a moda,
O mate, a proza
A saga, a sina
O causo e onça
Tem mais não

Ô peão....

Tempos e vidas cumpridas
Pó, poeira, estrada
Estórias contidas
Nas encruzilhadas
Em noites perdidas
No meio do mundo
Mundão cabeludo
Onde tudo é floresta
E campina silvestre
Mundão "caba" não

Sabe que "prum" bom viajante
Nada é distante
"Prum" bom companheiro
Não conto dinheiro
Existe uma vida
Uma vida vivida
Sentida e sofrida
De vez por inteiro
E esse é o preço "preu" ser brasileiro

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