quinta-feira, 22 de abril de 2010

Técnicas e tecnologias

A evolução do conhecimento confunde-se com a própria história da humanidade, através de inter-relações complexas que definem a evolução de um e de outro. Mas é possível afirmar que a humanidade sempre esteve atrelada às suas técnicas. Nas áreas de pesquisa arqueológica, tão importantes ou mais que a existência de fragmentos de ossos ou esqueletos humanos, os antropólogos sempre estiveram em busca de ferramentas primitivas ou de provas de sua existência. Porque o ser humano se define também pelas técnicas que usa. No decorrer da longa história da civilização, através da observação atenta sobre os usos que se faziam das coisas da natureza, os homens foram desenvolvendo procedimentos e receitas que encurtavam os tempos necessários à realização de suas tarefas.

Se as técnicas fazem parte da alvorada da civilização, as tecnologias são mais recentes. Surgem da Revolução Científica e constituem saberes teóricos com aplicação prática. Um dos melhores exemplos, porque um dos primeiros a se transformar em instrumento científico, é a lente de aumento. Esta é um objeto técnico, conhecido desde os povos mais antigos. Já o telescópio é um objeto tecnológico porque surge a partir das leis científicas definidas pela ótica. O telescópio é científico porque sua construção pressupõe um saber científico e vai ser utilizado para a produção de mais conhecimento científico. Para substituir os sentido humanos, variáveis, falhos e insuficientes, surgem os instrumentos científicos.

A Revolução Industrial divide a história das civilizações em dois períodos. O primeiro é aquele no qual a produção econômica dependia de bases técnicas que evoluíam lentamente. O segundo, surge a partir da Revolução Industrial, com a produção econômica tornando-se estritamente vinculada aos avanços tecnológicos surgidos de tempos em tempos, proporcionando períodos de grande crescimento econômico.

A produção de tecnologias a partir da aplicação sistemática do conhecimento científico permitiu um rápido avanço nas forças produtivas e a própria expansão do sistema capitalista. O desenvolvimento da máquina a vapor e sua aplicação às indústrias e aos transportes foi uma etapa crucial no processo de expansão econômica, ocorrida a partir da Inglaterra, desde o século XVIII. Da mesma época, data a noção liberal de progresso, associada à superioridade do presente em relação ao passado e ao futuro como ideal a ser perseguido. A evolução da sociedade estaria associada ao aumento da capacidade produtiva e ao domínio sobre os elementos naturais. A Revolução Industrial inglesa apresenta ao mundo a lógica do progresso infinito, ainda que esse progresso representasse a exploração indiscriminada da natureza e do trabalho humano em favor de uma minoria.

Então é isso, progresso infinito, ainda que baseado na exploração indiscriminada da natureza e do trabalho humano em favor de uma minoria.

Muitos, dentre os quais me incluo, não toleram esta noção de desenvolvimento, onde a expansão econômica vincula-se apenas ao desenvolvimento tecnológico. É óbvio que a economia capitalista funciona como um turbilhão de permanente desintegração e mudança: um vortex fazendo com que tudo se desmanche no ar.

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