domingo, 25 de abril de 2010

Afogados no mar da informação

Sem desconsiderar a importância de fatores institucionais, políticos ou de outra ordem, a presença de objetos tecnológicos no cotidiano social é um determinante para o processo de configuração das sociedades modernas. O tecnicismo está cada vez mais presente, tanto nas relações sociais, quanto nas de consumo, norteando o comportamento das instituições políticas, sociais e econômicas. Muitos têm sido os que insistem nesta tese.

Em “Tempos Modernos” para citar um exemplo dos mais conhecidos no campo da arte, Charles Chaplin trata de forma crítica a questão do tecnicismo na sociedade moderna. A indústria, retratada de forma satírica no filme, abusa do valor dado às inovações científicas e a tudo o que é linear e simétrico no contexto temporal (a linha de montagem). Levado à exibção em 1936, é um filme mudo produzido após o surgimento do cinema falado, o que pode servir como exemplo de que a técnica deve ser vista como um meio e que não deve obscurecer o conteúdo. Ou seja, se o tecnicismo é um caminho, ao menos não é o único caminho. Chaplin demonstrou que a sensibilidade humana pode se dar através de formas simples e que a comunicação humana eficiente não requer, necessariamente, recurso tecnológicos sempre mais modernos. O cinema neste caso é significativo porque apesar da Segunda Guerra Mundial em si mesma representar uma prova, ou ao menos um indicador, das insuficiências das sociedades industriais modernas e da ideologia do progresso a qualquer preço, as críticas ao tecnicismo restringiam-se ao campo do conhecimento filosófico.

Nos anos seguintes às guerras, embaladas pelos recursos do plano Marshall para a reconstrução européia e pela próspera indústria norte-americana do entretenimento, as populações urbanas de todo o mundo aderiram à sociedade do consumo.

Através dos tempos o conhecimento sempre esteve relacionado ao poder e ao controle sobre as populações. Mas o conhecimento científico certamente tem ampliado essa possibilidade. Na verdade, a ciência moderna, - tanto pelas teorias quanto pelas suas obras - se mostra fechada ao senso comum que não a discute nem procura entender. Quando atualmente um estudante conecta-se a um site através do computador de sua escola ele nunca se pergunta sobre a infra-estrutura que torna esse procedimento possível, nunca questiona a lógica de tudo o que vê a sua volta. Mas também aquele que realiza um exame médico ou assiste a uma aula em uma escola técnica de informática jamais chega a questionar a validade do conhecimento pelo qual está pagando.

A confiança na tecnologia é quase cega e muito raros são os que a questionam. Porque o cientista ou o técnico - através de seus instrumentos e métodos - pode ver o que os olhos humanos não conseguem.

Na realidade, sequer o cientista ou técnico preparado são capazes de ler o que seus instrumentos estão captando. Eles necessitam de softwares especializados que realizam uma intermediação entre o que as máquinas de visão captam e o que o entendimento humano é capaz de discernir. A complexidade das informações geradas pelos instrumentos de monitoramento e medição é tão grande, que a análise dos dados gerados, bem como a tomada de decisões, torna necessária a utilização de outras máquinas.

A sociedade tecnocientífica precisa dos computadores para intermediar as relações obtidas através dos diversos equipamentos de monitoramento e produção de informações. Temos, por exemplo, os satélites meteorológicos que captam imagens através dos espectros luminosos infra-vermelhos e ultra-violetas, invisíveis aos olhos humanos. A interpretação destas informações precisa, primeiramente, de uma adequada tradução realizada por softwares específicos. Isto sem falar na necessidade de gerenciamento de um volume, sempre crescente, de dados produzidos pelas grandes organizações privadas e governamentais.

Então, vamos imaginar que estamos mergulhados no mar da informação e, naturalmente, usamos cilindros de oxigênio para respirar. Sem eles, os intermediários, morremos afogados.

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