quarta-feira, 21 de abril de 2010

O consenso tecnológico

“Se a verdade é o que é passível de verificação, a verdade da ciência contemporânea é menos a magnitude de um progresso que a extensão das catástrofes técnicas que provoca.
Impelida durante quase meio século à corrida armamentista da era da dissuasão entre o Leste e o Ocidente, a ciência evoluiu na perspectiva única da busca de desempenhos-limites em detrimento, da descoberta de uma verdade coerente e útil à humanidade.”

Paulo Virilio, A Bomba Informática. Ed. Estação Liberdade, São Paulo: 1999.

A alusão à ciência é um fato antigo tanto no cinema quanto na literatura. Filmes como Metrópolis, de Fritz Lang e Viagem à Lua, de Georges Méliès, ainda nas primeiras décadas do século XX, inauguraram as referências à tecnologia no cinema. Com a literatura ocorreu o mesmo, e ainda antes, com clássicos de grande destaque, como Frankenstein de Mary Shelley, e as inúmeras ficções de Júlio Verne, que incorporaram aos seus livros as narrativas de forte apelo científico.

Atualmente, são comuns os discursos que insistem que o cotidiano está sendo invadido pelos objetos e serviços de cunho marcadamente tecnológico. A tecnologia aparece cada vez mais com um dos principais traços da sociedade contemporânea e sua presença nos meios de comunicação é muito importante. Os principais representantes da tecnologia no senso comum, certamente são objetos que de alguma forma incorporam a utilização de informações ou dados. Da Internet ao telefone celular, passando pelos ipods e ipads, muito do que é considerado tecnologia faz parte do campo da comunicação.

Os conhecimentos científicos, especialmente aqueles relacionados com a informática, estão presentes em todas as partes e alteraram as formas como as sociedades se organizam. A flexibilidade sistêmica dos novos processos produtivos baseados no pós-fordismo está reorganizando os territórios, transferindo fábricas, eliminando empregos, criando novos produtos e proporcionando a formação de novos comportamentos. Determinadas áreas urbanas ganham dinamismo, outras entram em processo de estagnação. Uma série de mudanças estão ocorrendo no mundo inteiro relacionadas às novas tecnologias.

A interpretação deste processo, a expansão das tecnologias pelas sociedades contemporâneas, encontra vozes dissonantes. Alguns, como Pierre Levy, consideram a difusão das novas tecnologias como um meio eficaz para se proporcionar a democratização das sociedades.
Por outro lado muitos autores encaram o tema de uma forma muito pessimista, quase apocalíptica. Paul Virilio é um dos que alertam para os riscos inerentes a subordinação excessiva dos processos produtivos e sociais à determinação tecnológica.

O que, a princípio, parece impossível negar é que existe um consenso, uma unanimidade, quanto ao fato das novas tecnologias serem extremamente importantes nas sociedades contemporâneas. Tal premissa encontra crédito nos diversos setores da sociedade. Tanto as universidades quanto as grandes corporações econômicas e o senso comum produzem inúmeros discursos envolvendo diretamente o conhecimento dito tecnológico.

Bem, é preciso desconfiar das unanimidades. Como disse Nelson Rodrigues, elas são estúpidas.

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